XEQUE-MATE no PIBID Letras: Eletiva de xadrez na Escola Leitão gera impactos na concentração dos alunos
Bolsista do PIBID Letras acompanha aulas de xadrez e observa aumento da concentração dos jogadores nas aulas de Literatura e Língua Portuguesa
Por: Josefa Ferreira
Desde 2023, a Escola Estadual Antônio de Carvalho Leitão, localizada em Presidente Epitácio (SP), passou a integrar o Programa de Ensino Integral (PEI) e, em 2025, unificou os turnos do Ensino Fundamental II e Médio em um único período, das 7h às 16h. A mudança favoreceu não apenas a convivência entre estudantes de diferentes idades, mas também o surgimento de atividades inovadoras – entre elas, o ensino do xadrez.
Paralelamente, alunos bolsistas do PIBID Letras – programa que oportuniza o conhecimento do cotidiano escolar e das práticas de ensino – passaram a acompanhar, desde novembro de 2024, as atividades desenvolvidas pela escola. A bolsista subscritora, Josefa Ferreira, acompanha as aulas de Português, Literatura e a eletiva de xadrez, com o objetivo de observar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes/jogadores após a inclusão do jogo, considerado uma “ginástica para o cérebro”, que também contribui para o desenvolvimento da paciência, do planejamento estratégico e da melhora no desempenho acadêmico.
A prática, que recebeu o sugestivo nome de “Xeque-Mate”, foi proposta pelos professores Heloisa de Souza Moreno (Língua Portuguesa e Literatura) e Henrique Trava Vidotto (Educação Física), dentro da disciplina eletiva prevista pelo PEI, na qual cada educador pode sugerir temas vinculados ao projeto de vida dos alunos. A eletiva de xadrez passou a ser uma das mais procuradas entre as diversas opções, como costura e bijuteria, reunindo atualmente 35 participantes – quase 10% dos 400 alunos da escola.
Para evitar que as escolhas fossem influenciadas por afinidade com os professores, os nomes dos responsáveis pelas eletivas só foram revelados no primeiro dia de aula. O sucesso da iniciativa também contou com o apoio da direção escolar e com a aquisição de 16 conjuntos de tabuleiro, viabilizada com recursos próprios de um dos membros da equipe, diante da ausência de repasse estadual.
Contrariando a expectativa inicial de que apenas alunos introspectivos e reconhecidamente estudiosos se interessariam, a eletiva atraiu um grupo bastante diverso, com idades entre 11 e 17 anos. Alguns estudantes tinham conhecimento prévio do jogo, através de familiars e amigos, mas a maioria não. As aulas começaram com um resgate histórico do xadrez, seguido por teoria e prática. Em duplas, os iniciantes foram auxiliados pelos mais experientes e, com o tempo, passaram a jogar de forma autônoma.
A estratégia adotada – em que o vencedor permanece na mesa e o perdedor busca um novo adversário – tem promovido a integração entre alunos de diferentes anos e idades, quebrando barreiras sociais comuns ao ambiente escolar. Episódios em que os chamados "pequenininhos" vencem colegas mais velhos são frequentes, reforçando o potencial intelectual dos alunos mais jovens e a importância de não os subestimar.
Além dos benefícios cognitivos observados, os professores responsáveis pretendem selecionar os melhores jogadores, dentro dos critérios etários, para formar uma equipe oficial da escola com vistas à participação em competições intercolegiais. O entusiasmo dos alunos – muitos influenciados por familiares, filmes e desenhos animados – reforça a viabilidade do projeto.
O projeto, ainda em fase inicial, tem se mostrado promissor tanto pelo engajamento dos alunos quanto pelos impactos na aprendizagem e na convivência escolar. A experiência surpreendeu positivamente a bolsista, que havia testemunhado a dificuldade de concentração e de aprendizado de alguns alunos, especialmente nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura. A evolução nas aulas de xadrez, com o aprendizado de regras e normas, o desenvolvimento do pensamento estratégico e a posterior melhora da concentração em sala de aula, tem sido significativa. A concentração, aliás, foi a primeira surpresa: o jogo a exige, e os alunos, normalmente dispersos e agitados durante as aulas, permanecem sentados, observando as peças, analisando as jogadas do adversário e antecipando mentalmente as próprias.
As aulas acontecem semanalmente, às quintas-feiras, após o almoço, e têm duração de quase duas horas. Durante esse período, os alunos demonstram garra e disciplina, mesmo que o silêncio absoluto ainda seja um desafio diante da empolgação gerada por jogadas e reviravoltas.
A eletiva de xadrez prova que, mais do que um jogo, o tabuleiro pode ser uma ferramenta eficaz de educação, inclusão e desenvolvimento. Prova ainda que, os estudantes não devem ser colocados em “caixinhas” rotuladas com “bons” ou “maus” alunos. Todos são capazes, desde que sejam oferecidas oportunidades que permitam a exploração e a descoberta de novos talentos.
A sala de aula transformada em campo de xadrez I
Jogada em ação
A sala de aula transformada em campo de xadrez II
Ele, o jogo
Será que temos um vencedor?
Depois das batalhas, as peças voltam para a caixa
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